29/04/2013
Marcelo Uchôa
processual@gomeseuchoa.adv.br Advogado e professor de Direitos Humanos (Unifor)
Projetar
um mandato nacionalmente num universo de 513 deputados é tarefa
difícil. Por mais dedicado que seja o parlamentar, a constância de seus
parcos minutos na tribuna, por si só, não lhe credenciam a ser um quadro
nacional. Por isso, disputas por espaços nos diferentes órgãos da
Câmara são tão acirradas.
Se a proposta do deputado Marco
Feliciano (PSC/SP), ao assumir a presidência da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias era aparecer, já conseguiu. Suas manifestações contra
homossexuais, africanos, não seguidores de sua Igreja, pessoas com HIV,
as reflexões sobre as circunstâncias das mortes de John Lennon, dos
Mamonas Assassinas, e as provocações sobre a suposta satanização dos
colegas que o antecederam em dita Comissão, já entraram para a história
dos episódios mais desnecessários do parlamento brasileiro.
Os
vídeos expostos no YouTube revelam um ser humano retrógrado, cheio de
preconceito e ódio contra o semelhante, intolerante o bastante para não
se encaixar em qualquer órgão de defesa dos direitos humanos, muito
menos na presidência, e, principalmente, na Comissão temática da Câmara,
onde terá que lidar com temas sensíveis, que cobram amadurecimento
político e senso republicano, mas onde sequer consegue, por culpa de sua
própria insensatez, conduzir uma audiência, salvo a portas fechadas e
com detenções de manifestantes.
Para além, também apresentam
um cidadão despreparado para o exercício do mister parlamentar, que, se
por um lado acredita representar o pensamento de parte da nação, por
outro lado, age desrespeitando-a enquanto unidade integrante da
República, cuja Constituição elegeu como um de seus fundamentos a
dignidade da pessoa humana. É inadmissível que um deputado, que tem no
legislar sua atividade fim, ignore isso.
Melhor seria se tal
parlamentar livrasse a Câmara do vexame pelo qual está passando por sua
causa, senão renunciando ao indigno mandato, pelo menos à presidência da
Comissão de Direitos Humanos. Como dito, se seu objetivo era aparecer,
já o fez. Agora há de livrar o grande público de seus disparates.
Fonte O Povo, 29/04/13, disponível em: http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2013/04/29/noticiasjornalopiniao,3047282/sai-feliciano.shtml