quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Lei da Anistia não pode proteger os torturadores, diz Tarso em exumação

Restos mortais do ex-presidente serão levados a Brasília para perícia.


João Goulart morreu durante o exílio na Argentina, em 1976.





Márcio Luiz Do G1 RS, em São Borja


Cartazes foram fixados em parede perto de cemitério de São Borja (Foto: Márcio Luiz/G1)Cartazes foram fixados em parede perto de cemitério de São Borja (Foto: Márcio Luiz/G1)
 
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, lembrou de sua relação afetiva com o ex-presidente João Goulart ao deixar o Cemitério Jardim da Paz, em São Borja, no final da manhã desta quarta-feira (13). 

Os restos mortais do ex-presidente deposto no golpe militar de 1964 e morto no exílio, em 1976, estão sendo exumados no local. Ele ainda lembrou que foi o responsável por assinar e decretar a anistia de Jango em 2008, mas ressaltou que a lei não pode proteger torturadores.

Governador Tarso Genro chega a São Borja, RS, para exumação dos restos mortais de Jango (Foto: Marcio Luiz/G1) 
Governador Tarso Genro esteve em São Borja
(Foto: Marcio Luiz/G1)
 
"Como representante do povo gaúcho, como governador do estado, vim aqui prestar uma homenagem e poder estabelecer uma relação com a família. De outra parte, também tenho razões pessoais. Fui acolhido pelo presidente Jango no exílio. Meu pai tinha uma intensa relação política e de amizade com ele", disse Tarso, que também é natural de São Borja.

O ainda disse governador disse que a família de Jango tem o direito de saber se ele foi ou não assassinado a mando da ditadura militar durante o exílio na Argentina, em 1976, e destacou a importância do processo de exumação do ex-presidente. Para Tarso, Jango teve grande importância social para o país.

"Jango foi um grande líder político de nosso país, que foi derrubado pelas suas virtudes e não pelos seus defeitos. Foi um presidente que, em sua época, levantou reformas importantes, que o Brasil precisa ainda no dia de hoje", declarou
 
Por fim, o governador lembrou que foi o responsável por assinar e decretar a anistia de João Goulart em 2008, quando era Ministro da Justiça. Questionado sobre uma possível revisão da Lei da Anistia, Tarso afirmou que apoia a iniciativa, mas com algumas ressalvas.

Mapa Jango (Foto: Arte/G1)

"Eu nunca defendi revisão da Lei da Anistia. Isso é um mito criado por parte da imprensa que queria abrigar os torturadores. Eu sempre defendi que a Lei da Anistia não poderia ser interpretada de modo a proteger torturadores. É isso que continua em jogo no país e que o Supremo Tribunal Federal agora começa a reagir", concluiu.

Peritos retiram gases de sepultura
 

Após quase uma manhã inteira de trabalho, peritos fazem a retirada de gases dentro do jazigo da família Goulart, onde estão enterradas nove pessoas. De acordo com os especialistas, o procedimento faz parte de um protocolo internacional e serve para evitar perda do material que será analisado. O processo começou por volta das 11h e deve demorar cerca de 1h. Depois da retirada, os gases também serão levados para análise em Brasília.

Exumação de Jango acontece nesta quarta-feira (13) (Foto: Marcio Luiz/G1) 
Caminhão transportará restos mortais de Jango
(Foto: Marcio Luiz/G1)
"Abrimos a tampa do jazigo, fizemos a identificação e tudo está de acordo com o que esperávamos. Estamos agora em um processo de coleta de material gasoso na sepultura. Isso é um processo normal, que faz parte da metedologia. Queremos eliminar qualquer possibilidade de perda de material", explicou à imprensa Amaury de Souza Junior, perito da PF e coordenador do trabalho.

Desde o início desta quarta-feira (13), o cemitério está isolado. Somente os peritos, familiares e autoridades podem assistir à exumação. O trabalho começou pouco antes das 8h e não tem hora para acabar. 

Depois da retirada, os restos mortais serão levados de helicóptero até Santa Maria, de onde seguem para Brasília. Na quinta-feira (14), haverá uma cerimônia na capital federal.

Peritos se preparam para exumação de Jango (Foto: Márcio Luiz/G1) 
Peritos se preparam para exumação de
Jango (Foto: Márcio Luiz/G1)
 
O objetivo do procedimento é esclarecer se Jango morreu de ataque cardíaco, como consta na documentação oficial, ou se foi assassinado por envenenamento. Nos últimos anos, surgiram evidências de que o ex-presidente pode ter sido mais uma vítima da Operação Condor, a aliança entre as ditaduras do Cone Sul para eliminar opositores além das fronteiras nacionais.

Do cemitério, os restos mortais de Jango serão levados até o aeroporto de São Borja. Um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) fará o transporte até a Base Aérea de Santa Maria, na Região Central do estado, de onde será feito o traslado até Brasília. O corpo de Jango deve chegar por volta das 10h de quinta-feira (14) à capital federal, onde será recebido com honras de chefe de Estado.

Morte ocorreu em exílio na Argentina
 
Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas uma autópsia nunca foi realizada. Na última década, novas evidências reforçaram a hipótese de que o ex-presidente teria sido envenenado por agentes ligados à repressão uruguaia e argentina, a mando do governo brasileiro.

A principal delas foi o depoimento dado pelo ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro ao filho de
 

Jango João Vicente Goulart, em 2006. Preso por crimes comuns, ele cumpria pena em uma penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, quando disse que espionava Jango e que teria participado de um complô para trocar os remédios do ex-presidente por uma substância mortal.

Em 2007, a família de Jango solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) a reabertura das investigações. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Tanto o governo federal quanto membros da família Goulart acreditam que há indícios de que o ex-presidente possa ter sido assassinado.

Fonte: G1, 14/11/13, disponível em: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/11/lei-da-anistia-nao-pode-proteger-os-torturadores-diz-tarso-em-exumacao.html

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