sexta-feira, 1 de março de 2013

Lula recebe título de doutor honoris causa da Unilab

O ex-presidente também recebeu uma placa da população da cidade, em agradecimento à criação da Universidade.
Por: Redação Web
O ex-presidente Lula recebeu nesta sexta-feira (1º) o título de doutor honoris causa pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em Redenção.

No Campus da Liberdade, com a presença de centenas de alunos, Lula falou sobre o Plano de Desenvolvimento da Educação lançado em 2007, que iniciou uma transformação na educação brasileira.

O ex-presidente disse estar emocionado em receber o título e relembrou todo o processo de criação da Unilab, que começou em 2008.

No final do discurso, o petista pediu para que os alunos não desistam da política. “A negação da política é a pior coisa que existe. Não desistam nunca de sonhar. Não desistam nunca de construir um futuro melhor”, afirmou Lula.

Durante o governo Lula foram criadas 14 novas Universidades Federais, dentre elas a Unilab, além de 126 extensões universitárias. O homenageado da Unilab também ressaltou a criação de 214 novas escolas técnicas federais. O ex-presidente disse estar emocionado em receber o título e relembrou todo o processo de criação da Unilab, que começou em 2008.

O título de doutor honoris causa entregue ao ex-presidente Lula foi o primeiro concedido pela Unilab. Estiveram presentes na cerimônia o governador do Ceará, Cid Gomes, do ministro da educação, Aloizio Mercadante, e do reitor, Paulo Speller.

Nesta sexta-feira (1), Lula também recebeu o título de Cidadão Acarapense.

Confira a versão oficial do discurso de Lula:

Recebo com emoção o título de doutor Honoris Causa da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.

Considero que esta homenagem se estende a todos aqueles que lutaram e ainda lutam para promover a integração dos povos da lusofonia, no espírito de uma cooperação fraterna entre países soberanos.

A criação da Unilab foi um marco histórico no processo de integração de culturas diversas, espalhadas pelos continentes e unidas pelo uso do Português como idioma oficial.

E foi, principalmente, um marco na cooperação pelo desenvolvimento entre o Brasil e os países lusófonos da África – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe – aos quais se soma Timor Leste como parceiro da Unilab.

Temos outros laços além do idioma e de raízes históricas comuns. Temos desafios concretos para o desenvolvimento de nossos países, todos eles marcados, historicamente, por profundas desigualdades que buscamos superar.

Simbolicamente, mas também com um sentido muito prático, alcançamos com a Unilab o mais elevado patamar dessa integração.

Aqui se elabora um patrimônio comum de conhecimento, que será compartilhado com as populações dos países de onde provêm nossos professores e estudantes.

Aqui estamos construindo o futuro. Um futuro que será de paz, justiça social, democracia e progresso para nossos povos.

Meus amigos, minhas amigas,

A implantação desta instituição começou em 2008, pelos trabalhos de uma comissão que identificou temas comuns ao Brasil e aos membros africanos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Em 20 de julho de 2010, tive a honra de sancionar a Lei 12.289, que instituiu a Unilab como Universidade Pública Federal. Foi um dos atos mais gratificantes do período em que fui presidente do Brasil.

Decidimos sediá-la na região Nordeste, onde são maiores em nosso país as marcas da desigualdade e os desafios do desenvolvimento.

A escolha do município de Redenção para sediar o primeiro campus da Unilab tem um forte simbolismo para esse projeto.

Foi aqui, na antiga Vila de Acarape, que 116 homens e mulheres foram libertos da escravidão, em 1º de janeiro de 1883, antecipando em 5 anos o fim daquela prática abominável em território brasileiro.

Os abolicionistas de então – José do Patrocínio, Antônio Tibúrcio, Liberato Barroso, Justiniano de Serpa, dentre outros – presidiram aquele gesto redentor, quando a cidade adotou seu nome atual e se projetou como vanguarda da liberdade no Brasil.

No campus de Redenção repousam os valores de liberdade, justiça e igualdade que inspiram o projeto da Unilab. Aqui começou o resgate de uma dívida secular com os povos africanos.

Quando visitei o Senegal, em 2005 – uma das muitas viagens que fiz à África em meu governo – fiz questão de conhecer a ilha de Goré, porto de onde partiram milhões de escravos para a América.

Ao longo de três séculos, aqueles homens e mulheres arrancados de sua terra, e depois seus descendentes, deitaram suor e sangue sobre o solo em que hoje vivemos.

Lá em Goré, em nome do povo brasileiro, pedi perdão por este que foi certamente um dos maiores crimes já cometidos contra a humanidade.

As marcas da escravidão ainda cobrem o continente africano, como cicatrizes da História, e até mesmo como feridas abertas em determinadas regiões.

São as marcas da fome, da desigualdade, da injustiça, da exploração econômica e das guerras que opõem irmãos.

No Brasil, os descendentes dos escravos, embora formalmente livres, jamais alcançaram coletivamente a condição de iguais numa sociedade injusta.

Permaneceram, na imensa maioria, apartados do acesso às condições básicas de uma vida digna: trabalho, moradia, educação e saúde.

Não há reparação suficiente para o sofrimento e a brutalidade a que tantos povos foram submetidos no passado.

Mas é nosso dever – histórico, moral e político – superar os desafios do presente e semear uma vida melhor para as próximas gerações.

Meus amigos, minhas amigas,

É notável o estreitamento das relações entre o Brasil e os países da África nos últimos anos.

Em meu governo, tive oportunidade abrir ou reativar representações do Brasil em 19 países daquele vasto continente.

Hoje temos relações diplomáticas com todos os 54 países africanos, e há embaixadas brasileiras em 38 deles. Nada menos do que 33 países africanos mantêm representações diplomáticas no Brasil.

Abrimos frentes de cooperação em setores estratégicos para o desenvolvimento econômico e social, sempre respeitando a soberania dos países parceiros.

Com espírito fraterno, contribuímos para o desenvolvimento de técnicas agrícolas, por meio da Embrapa, da agricultura familiar e na gestão de programas contra a miséria.

Apoiamos ações na área da saúde, dentre as quais destaco a implantação da fábrica de antivirais em Moçambique, fundamental no apoio aos portadores do HIV na África Austral.

O Brasil também está presente nos investimentos em infraestrutura nos países africanos, apoiados pelo BNDES, e na indústria do petróleo e gás, por meio da Petrobras, dentre outras iniciativas.

Nosso reencontro com a África se dá num momento excepcional.

Os últimos dez anos foram marcados por um crescimento constante da economia no Brasil e também nos países africanos.

A média de elevação do PIB no continente africano nos últimos dez anos foi de 6,8%, muito superior à dos países mais ricos no mesmo período.

O Brasil, nesses dez anos, conheceu pela primeira vez um ciclo virtuoso de crescimento com inclusão social.

Nós não apenas voltamos a crescer, com estabilidade econômica, mas passamos a crescer em benefício de todos.

Mais de 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza extrema e 40 milhões atingiram o patamar da classe média, que representa hoje mais da metade da população.

A chave que abriu em nosso país uma nova era de prosperidade é o modelo de crescimento com inclusão.

Com programas de garantia de renda básica, aumento real dos salários e ampliação do acesso ao crédito, criamos uma nova dinâmica interna na economia, que se soma ao aumento das exportações para fazer o Brasil crescer sustentadamente.

O investimento em educação é fundamental para garantir e ampliar, no futuro, os benefícios desse novo modelo. Por esta razão elegemos a educação como prioridade absoluta.

O orçamento do MEC em 2012, de 72 bilhões de reais, é quatro vezes maior do que os 17,4 bilhões em 2002, último ano do governo anterior.

Não apenas aplicamos mais recursos, mas superamos a falsa dicotomia entre ensino fundamental e ensino superior, que contribuía para manter no impasse uma política pública estratégica.

Com o Plano de Desenvolvimento da Educação lançado em 2007, o Brasil começou a virar o jogo. Pela primeira vez o país se viu diante de uma política pública que olhava a educação como um todo, da creche a pós-graduação.

Orgulho-me de ter criado 14 novas Universidades Federais, dentre elas a Unilab, e 126 extensões universitárias, nas mais diversas regiões do país, democratizando e interiorizando o acesso ao ensino superior.

Sem falar nas 214 novas escolas técnicas federais, que abriram possibilidades inéditas de formação profissional da juventude.

Dobramos o número de vagas nas universidades públicas. Instituímos o sistema de cotas para favorecer o acesso de afrodescendentes ao ensino público superior.

Por meio do Prouni, já oferecemos 1 milhão e 300 mil vagas para estudantes de famílias pobres nas instituições particulares.

Meus amigos, minhas amigas,

Se foi possível darmos este imenso salto para o desenvolvimento, em tão pouco tempo, acredito que os países da África também poderá fazê-lo. Trata-se de um continente com cerca de 1 bilhão de habitantes, que além dessa riqueza humana detém um extraordinário patrimônio natural.

A expectativa de grandes transformações nos países africanos se justifica também pela consolidação da democracia no continente, onde tivemos, no ano passado, eleições presidenciais ou legislativas em nada menos que 26 países.

A União Africana deu um passo significativo para a integração e o desenvolvimento ao aprovar, em janeiro de 2012, o Programa para Desenvolvimento das Infraestruturas em África, o PIDA.

Este programa prevê investimentos públicos e privados da ordem de 360 bilhões de dólares, até 2040, em obras de transportes, energia, tecnologia de comunicações e para garantir o acesso à água em todo o continente.

É uma oportunidade histórica a desafiar toda uma geração.

A energia criativa para o desenvolvimento dos países africanos, em novas bases, está concentrada na juventude, num continente em que 60% da população têm menos de 25 anos de idade.

Aqui na Unilab, temos algumas centenas desses jovens, alguns dos mais talentosos, portadores da esperança de um futuro melhor.

É a vocês que me dirijo especialmente neste momento.

Vocês se empenharam muito para chegar até aqui, em busca de formação nas áreas que a Unilab oferece: Administração Pública, Agronomia, Ciências da Natureza e Matemática, Engenharia de Energia, Ciências Humanas e Letras.

São áreas do conhecimento voltadas para as demandas mais urgentes dos nossos países parceiros.

Mas vocês não chegaram aqui apenas para aprender as disciplinas curriculares.

Chegaram também para ensinar uns aos outros e nos ensinar a todos, pois cada um traz consigo experiências e saberes diversos.

Peço que compartilhem essa riqueza, pois isso é essencial para a consolidação da Unilab e do nosso projeto comum de integração para o desenvolvimento.

Não ocultem as inquietações nem soneguem a crítica, porque é da diversidade que surgem as novas ideias.

Vocês chegaram aqui com seus sonhos, e são também os embaixadores da esperança de um futuro melhor para os nossos povos.

É por isso que também lhes peço: por maiores que sejam os desafios e as dificuldades, não desistam de sonhar.

Não desistam nunca de tentar construir um mundo melhor do que este que vocês receberam.

Não desistam do futuro, porque o futuro será de vocês.

Muito obrigado.

Fonte: Ceará Agora, 01.03.13, disponível em: http://www.cearaagora.com.br/noticias/dia-dia/lula-recebe-titulo-de-doutor-honoris-causa-da-unilab?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

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