segunda-feira, 2 de maio de 2011

A morte de Bin Laden

O anúncio da morte de Osama Bin Laden tem causado uma comoção positiva no meio social ocidental. Uma verdadeira ode à morte vem sendo proclamada abertamente, sem pudor. O fato revela uma faceta sádica do ser humano que vem sendo alimentada, ao longo dos anos, por uma condução política que vê nos folhetins de noticiário a melhor maneira de manter os índices de popularidade.

Para pôr-se fim ao terror, mais eficaz do que eliminar Bin Laden é abolir a idéia insana de que se deletando pessoas as coisas se resolverão. Qualquer crítico do ex procurado n. 1 do planeta é sabedor de que se ele se foi para seus arqui-inimigos, haverá quem, num outro extremo, acredite que agora ele vive, supostamente com justiça, a vida eterna. Afinal, o fundamentalismo se ancora em referenciais de fé para justificar suas práticas, o que, por outro lado, permite concluir que novos ou antigos seguidores poderão empreender esforços para tocar adiante o projeto do antigo líder.

Espera-se que a morte de Bin Laden tenha sido justificada pela impossibilidade de efetivação de qualquer outro meio não letal, prejudicado por alguma reação violenta ao aprisionamento. Em outro diapasão, que a ação dos Estados Unidos não sirva para acirrar o ódio social antiocidental, nem tenha o condão de conduzir sua própria sociedade e a de seus históricos aliados a mais uma arrogante exaltação de força bruta. Por fim, espera-se que a ação tenha sido articulada com o governo do Paquistão, afastando as suspeitas de violação à soberania daquele Estado. Caso contrário, as consequências histórico-sociais poderão ser danosas. Afinal, a certeza de que o terror alimenta o terror é tão sólida quanto a constatação de que a generosidade alimenta a alma e conduz à paz.
Marcelo Uchôa
Professor de Direito Internacional da UNIFOR

3 comentários:

ana tavares disse...

BELISSIOMO texto.O terror pelo terror tem exemplos desde muito antes da revolução francesa.Esta lei de Talião nunca funcionou.Os tempos são da procura pela paz.O número um caiu.Infelizmente ,existem milhares na organização...estes devem estar,seguramente,esperando para revidar...e isto me dá medo...

Pablo Uchoa disse...

Feitas as devidas correções e adaptações à realidade da notícia, talvez valha um pensamento de Martin Luther King que tem circulado desde ontem: "Faço luto pela perda de milhares de vidas preciosas, mas não regozijo nem mesmo na morte de um inimigo. Revidar o ódio com ódio multiplica o ódio, escurecendo uma noite já carente de estrelas. O ódio não elimina o ódio: só o amor o faz."

Adriana Coutinho disse...

Recebi seu texto via e-mail e achei-o muito pertinente quando comentou a reação do Ocidente à execução de Osama Bin Laden como uma "ode à morte". Realmente é uma reação que devemos estranhar. A ação de Bin Laden foi monstruosa, cruel e covarde ceifando a vida de milhares de pessoas em poucos instantes num alvo civil e desprotegido. Mas daí fazer festa por causa de sua morte? A morte é lamentável mesmo quando "necessária", como numa situação de legítima defesa. E além disso, como você alerta, os problemas das relações dos países ocidentais desenvolvidos com o mundo árabe-mulçumano não cessam com a morte desse homem.