Repórter da Agência Brasil
Brasília – O governo brasileiro decidiu atender ao pedido do governo do
Haiti e ajudar na formação de uma nova força de segurança no país
caribenho. A decisão foi comunicada pelo ministro da Defesa, Celso
Amorim, em reunião hoje (26) com o ministro haitiano da Defesa, Jean
Rodolphe Joazile.
De acordo com o Ministério da Defesa, nas próximas semanas, o Brasil
deverá enviar ao país uma missão com integrantes do Exército, da Marinha
e da Aeronáutica para estudar formas de ajudar o país. "É um pedido do
governo do Haiti de nós cooperarmos nessa linha. Estamos, agora,
começando a trabalhar nas modalidades de como essa ajuda pode ser
prestada", declarou o ministro da
Defesa Celso Amorim, após um almoço
com as autoridades haitianas.
Não haveria ajuda, segundo Amorim, se o governo brasileiro não tivesse
obtido do governo haitiano a garantia de que o Exército do país não
funcionará como "milícia pessoal", como ocorreu no passado, quando o
país foi governado por ditaduras sangrentas. "Essa preocupação existe e o
ministro [Jean Joazile] me deu garantias de que não se trata de
restituir o antigo Exército que tem contra ele essas acusações e nem de
um modelo que funcione como uma milícia pessoal", disse.
Uma forma de apoio já cogitado pelo governo brasileiro seria a de abrir
vagas para que militares haitianos pudessem cursar engenharia no
Brasil. "Essa ajuda teria o objetivo de dar um caráter efetivamente
profissional, institucional a essa força e, mais importante ainda,
começando por uma área que é de grande interesse para o Haiti, que é a
engenharia militar, com implicações para a defesa civil", explicou
Amorim.
A iniciativa de formar uma nova força de segurança é uma das principais
estratégias do governo de Michel Martelly, presidente que tomou posse
no ano passado. Há 17 anos, as Forças Armadas do Haiti foram dissolvidas
após sucessivos golpes militares e uso político do aparato militar. O
presidente haitiano chegou a tratar do assunto diretamente com a
presidenta Dilma Roussef, em janeiro deste ano, quando ela visitou o
país.
A colaboração acertada hoje ocorrerá simultaneamente ao movimento de
diminuição da participação brasileira na Força de Paz das Organizações
das Nações Unidas (Minustah), que está no país desde junho de 2004.
Atualmente, 2 mil militares brasileiros participam da Minustah e a
intenção do governo é reduzir esse contingente para mil, patamar que
havia antes do terremoto que atingiu o país em janeiro de 2010. O
Brasil, que tem a liderança da Minustah, chegou a ter 2.250 militares no
Haiti.
Apesar de haver consenso na comunidade internacional de que a força da
ONU é necessária, sua presença no Haiti também enfrenta críticas, já que
não contribui para que o país caminhe com as próprias pernas. A
avaliação do governo brasileiro é a de que a presença das tropas deve
diminuir gradativamente. "Não sei em quanto tempo será, mas o processo
de redução [do contingente] da Minustah já começou e vai continuar.
Ficaremos lá o tempo que for necessário, mas, como eu sempre tenho dito,
não é bom nem para o Brasil, nem para a ONU, nem para o Haiti que as
forças estejam lá de maneira permanente", observou o chanceler
brasileiro.
Amorim defendeu a necessidade de formação de uma força militar no Haiti
capaz de assumir as ações desempenhadas hoje pela força de paz.
"Havendo essa redução, evidentemente tem que haver alguma capacidade
local para lidar com os problemas de segurança”, disse.
O ministro destacou as áreas nas quais o Haiti quer ser preparar com o
objetivo de reconstruir o país. “O Haiti está preocupado também em
proteger suas fronteiras, em guardar sua costa marítima, ser capaz de
atuar na área de defesa civil. Infelizmente, é um país muito sujeito a
desastres naturais. O terremoto de 2010 foi o evento mais conhecido, mas
há também enchentes inundações, furacões”.
Edição: Lana Cristina
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