Chamado de "bispo dos pobres",
Fernando Lugo entrou para a história do Paraguai ao enfrentar a cúpula
católica para se candidatar e se tornar o primeiro presidente de
esquerda do país.
Na Presidência, perdeu sua base de
apoio, enfrentou oposição ferrenha e virou personagem do folclore
político, quando vieram à tona os “filhos” do “presidente bispo”.
Fonte: BBC Brasil, 22/06/12, disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/06/120622_lugo_perfil_paraguai_mc.shtml
O conflito agrário que resultou em 18 mortes
(entre camponeses e policiais) selou o destino de Lugo, cassado em um
processo relâmpago de impeachment.
Em pouco mais de 24 horas, Lugo foi apeado do
poder, no que foi chamado de “golpe parlamentar” por analistas e
lideranças políticas do Paraguai e da região.
Eleito em abril de 2008, o paraguaio foi um
presidente solitário. Governou sem apoio do Congresso e sob a mira de
setores empresariais que questionavam sua capacidade de conter demandas
reprimidas, como a dos agricultores dos sem-terra.
Sina
Lugo acabou repetindo a sina de outros
presidentes paraguaios, que não conseguiram completar seus mandatos ao
longo da turbulenta história do país.
Com pouco mais de seis milhões de habitantes, o
Paraguai registrou, em sua história recente, vários hiatos de democracia
e de estabilidade institucional.
Um deles levou o ex-presidente Raúl Cubas,
destituído em 1999, a pedir asilo político no Brasil, onde Stroessner
também viveu asilado.
Lugo, um novato na política tradicional, deixou o
Palácio de López a apenas oito meses das eleições presidenciais, após
perder o apoio decisivo dos liberais, do PLRA (Partido Liberal Radical
Autentico), legenda do seu ex-vice e inimigo político, Federico Franco,
agora seu sucessor.
Novato
Lugo chegou à Presidência usando seu carisma
como religioso. Sua única experiência política até ser lançado
pré-candidato em 2006 tinha sido a militância junto a movimentos sociais
em sua diocese de San Pedro, uma das regiões mais pobres do país.
Segundo observadores paraguaios, Lugo “pecou” ao
não fazer alianças políticas para tentar “sobreviver” à forte oposição
dos congressistas.
Apesar de ter sido derrotado nas urnas, o
Partido Colorado tinha a maior parte dos votos no Congresso e a simpatia
da maioria dos 300 mil funcionários públicos filiados à legenda.
Quando Lugo foi eleito pela Aliança Patriótica
para a Mudança, que incluía partidos da esquerda à direita, um diplomata
brasileiro alertou a BBC Brasil sobre os problemas que viriam pela
frente.
“Ele terá que ter muita cintura política para
governar com este amplo perfil político e sem base própria no Congresso.
Vai ser difícil agradar a todos e especialmente no Paraguai”, disse, na
ocasião.
Filhos e câncer
Lugo sobreviveu ao cargo mesmo quando surgiram informações, em 2009, de seu primeiro filho, fruto dos tempos em que era bispo.
A notícia provocou comoção entre os paraguaios e
virou motivo de deboche e até hit musical. O grupo de cumbia Los
Angeles ganhou fama ao cantar que ‘Lugo tem coração, mas não usou condón (camisinha)”.
O então presidente e ex-bispo foi acusado por
quatro mulheres de ser pai de seus filhos, mas reconheceu reconheceu a
paternidade de apenas duas das quatro crianças.
Na Presidência, Lugo também enfrentou um câncer que o levou várias vezes à São Paulo, onde realizou o tratamento.
Publicamente, Lugo aparecia sozinho e era visto
por seus colegas presidentes como um político “tímido e afável”, que
mantinha hábitos da cultura paraguaia, como falar em guarani e tomar
‘tereré’ (chimarrão).
Lugo deixa a Presidência de um país que
registrou forte crescimento econômico nos últimos (apesar da
desaceleração recente), favorecido pelo boom da soja, mas com problemas
sociais.
A expectativa é que ele volte para a casa onde morava, no município de Lambaré, na grande Assunção.
Na parede, quando ainda era candidato, Lugo
mantinha um quadro com a frase de Paulo Coelho: “O mundo está nas mãos
daqueles que têm a coragem de sonhar e de viver seus sonhos”.
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