Enquanto líderes de dezenas de
países se reúnem no Rio de Janeiro para discutir desenvolvimento
sustentável, um pedaço de Floresta Amazônica revela as dificuldades de
se traduzir essas ideias em ações.
Na Serra de Carajás, no Pará, em meio a 400 mil
hectares de mata virgem, a mineradora Vale explora, desde 1985, as ricas
jazidas de minério de ferro da região.
Fonte: BBC Brasil, 21/06/12, disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2012/06/120620_carajas_valeeste_ebc.shtml
No ano passado, foram extraídos quase 110
milhões de toneladas, quase tudo para atender ao crescimento da China e
outros países asiáticos.
Ao mesmo tempo, nos últimos anos, milhares de
cavernas foram descobertas na região, segundo pesquisadores, exemplares
raros e pouco conhecidos pela ciência.
Em uma delas, foram encontrados vestígios de
ocupações nômades de mais de 9 mil anos, uma descoberta que ajudou os
arqueólogos a montarem o quebra-cabeça da pré-história da região.
O problema é que essas cavernas se encontram em áreas riquíssimas em ferro, e dentro dos planos de expansão da empresa.
"As cavernas bloqueiam o avanço da mineração,
tanto que até a legislação já foi mudada. Antes, qualquer caverna era
protegida, agora, é preciso estabelecer a relevância, de acordo com mais
de 20 critérios", afirmou à BBC Brasil o chefe da Floresta Nacional de
Carajás, Frederico Drumond Martins, do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Repletas de espécies pouco estudadas e milhares
de morcegos, de diversas espécies, as cavernas de minério de ferro são
também um enorme atrativo para pesquisadores.
"Em congressos no exterior, nossos colegas ficam
perplexos. Existe pouca literatura acadêmica sobre este tipo de
formação", afirmou a espeleóloga Maria de Jesus Almeida, da Fundação
Casa da Cultura de Marabá.
Ações sustentáveis
Por outro lado, a demanda por minério de ferro
no Brasil e no mundo não para de crescer, e a Vale tem todo o interesse
em continuar na liderança deste mercado.
Para isso, além de sua evidente atuação na mineração, a empresa tem investido em sustentabilidade.
"Nós somos uma empresa de mineração. Então,
temos que aceitar que existe um impacto na natureza. Mas nós também
fazemos muito pela conservação. Em Carajás, por exemplo, usamos apenas
cerca de 3% da área total", afirmou a diretora de sustentabilidade da
empresa, Giane Zimmer.
A empresa paga um exército de 80 fiscais
florestais, além de equipamentos e suporte às atividades do ICMBio para
proteger uma área maior que a Floresta Nacional, com 1,2 milhão de
hectares.
A Vale também mantém um parque zoo-botânico em
Carajás, aberto à população local, com animais e plantas amazônicas,
além de sinalização de trilhas e recomposição de florestas ao fim do
ciclo de mineração.
Para isso, foi criado um viveiro de espécies amazônicas em Carajás, que atualmente conta com 21 mil mudas.
A empresa afirma ter importantes estudos na área
de reflorestamento e Giane
Zimmer diz ter confiança de que é possível
recuperar as áreas mineradas.
No entanto, a resposta definitiva só deve ser
dada dentro de 30 a 50 anos, uma vez que a primeira das quatro minas em
operação em Carajás deve ser fechada definitivamente apenas em 2030.
Ou seja, pelo menos neste pedaço de Floresta
Amazônica a prova real da viabilidade de uma operação de mineração
sustentável provavelmente ficará em aberto até uma eventual "Rio+100".
O dilema entre conservação e exploração de
recursos naturais é um dos temas da conferência ambiental Rio+20,
prevista para terminar nesta sexta-feira, com um texto-base de
compromissos com metas de desenvolvimento sustentável.
No entanto, o documento acordado em plenária é considerado brando na adoção de compromissos concretos dos países signatários.
Acesse o vídeo da matéria em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2012/06/120620_carajas_valeeste_ebc.shtml
Veja a galeria de fotos de Carajás em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/06/120619_galeria_carajas_jf.shtml
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