Atualizado em 21 de junho, 2012 - 14:23 (Brasília) 17:23 GMT
As mortes em um conflito agrário
na semana passada no Paraguai provocaram uma crise que levou o
presidente, Fernando Lugo, a afirmar nesta quinta-feira que não
renunciará ao cargo. O discurso em rede nacional ocorreu minutos depois
da aprovação por ampla maioria na Câmara dos Deputados da abertura de um
processo de impeachment contra ele.
"Não renunciarei ao cargo para o qual fui eleito pelo voto popular. Não interromperei um processo democrático e me submeterei ao processo político, como mandam as leis paraguaias, com todas as suas consequências, como indica a Constituição paraguaia", afirmou o presidente.
Os deputados aprovaram a abertura do
processo de impeachment por 73 votos contra um em uma votação relâmpago
também transmitida pelas televisões paraguaias.
Fonte: BBC Brasil, 22/06/12, disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/06/120621_paraguai_lugo_mc.shtml
O próximo passo será o julgamento do impeachment
em si, pelo Senado, onde a oposição também tem maioria. As regras são
diferentes das do Brasil, onde as duas casas do Congresso precisam
aprovar a abertura do processo.
A situação política no Paraguai se deteriorou
rapidamente após a morte, na última sexta-feira, de 18 pessoas, entre
policiais e camponeses, em um confronto em uma fazenda em Curuguaty, no
Departamento (Estado) de Canindeyú, próximo à fronteira com o Paraná.
Na rápida discussão sobre a instalação do
processo político, parlamentares argumentaram que Lugo era o responsável
pelas mortes. Outras versões sugerem que o grupo guerrilheiro EPP
(Exército do Povo Paraguaio) poderia estar por trás das ações a tiros
contra os policiais que entraram na fazenda do empresário e político
paraguaio Blas Riquelme.
Os enfrentamentos geraram comoção nacional e provocaram a demissão do ministro do Interior, Carlos Filizzola.
Cúpula de emergência
O anúncio do processo de impeachment surpreendeu
o país a nove meses do fim do mandato de Lugo. As eleições
presidenciais estão marcadas para abril de 2013, e a Constituição não
permite a reeleição presidencial.
A Unasul (União das Nações Sul-americanas)
convocou uma cúpula de emergência dos presidentes da região. Em seu
discurso, Lugo falou em perseguição política.
"A vontade popular expressada nas urnas em abril
de 2008 (data da eleição de Lugo) está sendo alvo de ataques de
misericórdia por parte de setores que sempre foram contra as mudanças e
se opuseram a que o povo pudesse ser protagonista da sua democracia. O
povo não esquecerá que se pretende interromper um processo democrático
histórico a apenas nove meses das eleições gerais ", disse.
Lugo, um ex-bispo católico ligado a movimentos
sociais, tornou-se em 2008 o primeiro presidente a quebrar a hegemonia
de seis décadas do Partido Colorado no poder, incluindo os 35 anos do
regime militar comandado por Alfredo Stroessner (1954-1989).
Surpresa
Ouvido pela BBC Brasil, o analista político e
amigo de Lugo, Alfredo Boccia, que também é médico particular do
presidente, disse que o pedido de impeachment surpreendeu a todos.
"Uma surpresa desagradável para o país, que vive
um momento de recuperação econômica histórica e que vinha enfrentando
seus piores problemas que são a pobreza e a desigualdade social", disse.
"Há comoção porque ninguém esperava uma ação
assim. A maioria opositora no Congresso sempre foi um desafio para Lugo.
mas ninguém sabe agora o que vai acontecer ", acrescentou.
Para Boccia, o Paraguai vive momentos de
incerteza, mas a expectativa é de que o Senado decida sobre o
afastamento do presidente nos próximos dias. Na opinião dele, como a
oposição tem ampla maioria no Senado, o impeachment, se nada mudar,
seria apenas uma formalidade.
Com pouco mais de 6 milhões de habitantes, o
Paraguai tem uma trajetória política e economica marcada pelas
incertezas e golpes militares. Segundo Boccia, a diferença é que desta
vez o processo politico está previsto na Constituição.
A legislação prevê que o vice, Federico Franco,
assuma o cargo caso seja aprovada a destituição do presidente. Franco é
opositor de Lugo desde o rompimento da coalizão nos primeiros anos do
governo.
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