Advogado. Professor de Dir Internacional e Dir Humanos/UNIFOR, havendo ensinado Dir Trabalho, Hermenêutica e Estágio. Doutorando em Direito/UNIFOR e Univ Salamanca c/ Diplomas de Grado, Estudios Superiores e Avanzados. Mestre em Dir Constitucional. Especialista em Dir Trabalho. Ex Coord Especial de Dir Humanos/CE. Autor dos livros Direito Internacional, Ed Lúmen Juris, e Controle do Judiciário: da expectativa à concretização (o 1o biênio do CNJ), Ed Conceito. Face: Marcelo Uchôa TT: MarceloUchoa
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Chefes do atentado ao Riocentro mataram Baumgarten
Dono da revista “O Cruzeiro” foi morto como queima de arquivo, segundo conta ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra
Tales Faria, iG Brasília |
- Atualizada às
Os mesmos comandantes do Riocentro mandaram executar o
jornalista Alexandre Von Baumgarten, em 1982, revela o ex-delegado do
DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) do Espírito Santo Cláudio
Guerra, no livro “Memórias de uma guerra suja”.
Cláudio Guerra
conta que ele próprio foi encarregado inicialmente do assassinato. O
plano era simular uma morte natural, aplicando em Baumgarten uma injeção
com a substância letal. A perícia, combinada, apontaria como causa da
morte um infarto comum.
Foto: Divulgação
Delegado Cláudio Guerra: Baumgarten foi morto como queima de arquivo
Segundo o relato do ex-delegado aos jornalistas Marcelo Netto
e Rogério Medeiros, que acaba de ser publicado pela Editora Topbooks, a
ordem de matar Baumgarten, dono da revista Cruzeiro, “partiu do SNI
(Serviço Nacional de Informações) de Brasília”.
À época, a Agência Central do SNI, em Brasília, era chefiada pelo
general Newton Cruz. E Cláudio Guerra teria sido escalado para o
assassinato - chamado de Operação Dragão - pelos seus dois chefes
diretos: o coronel de Exército Freddie Perdigão (Serviço Nacional de
Informações) e o comandante Antônio Vieira (Cenimar).
O ex-delegado dá os nomes dos comandantes da operação, “os mesmos de sempre”:
Ambos haviam sido, ainda segundo o ex-delegado, os comandantes do
atentado do Riocentro, junto com o coronel Carlos Alberto Brilhante
Ustra (comandante do Departamento de Operações de Informações do 2º
Exército – DOI-Codi).
“Ele (Baumgarten) ia morrer porque era um arquivo vivo. Recebia
dinheiro para apoiar o governo militar, por meio do trabalho na revista.
Mas, por várias razões, os militares perderam a confiança nele e
decretaram sua morte. Por mais recursos que ele recebesse, queria sempre
mais e mais. A ambição o transformou num chantagista.”
Cláudio Guerra conta que juntou três homens de sua equipe e, um mês
antes do desaparecimento de Baumgarten, abordaram-no numa rua do Rio de
Janeiro e o imobilizaram.
“Anunciei um assalto, a injeção estava comigo, mas não consegui
aplicar. Baumgarten reagiu, gritou que estava sendo assassinado e acabou
atraindo a curiosidade das pessoas que passavam. Tivemos que abortar a
operação.”
Pouco tempo depois, o técnico da antiga Companhia Telefônica do Rio
de Janeiro (Telerj) Heráclito Faffe, que trabalhava em escutas para o
SNI, morreu de edema pulmonar após uma estranha tentativa de assalto em
Copacabana.
O livro “Dos quartéis à espionagem: caminhos e desvios do poder
militar”, de José Argolo e Luiz Alberto Fortunato, relata que Faffe
chegou a ser atendido por médicos e contou que seus agressores
aplicaram-lhe uma injeção nas nádegas. Troca de comando na operação
Segundo Cláudio Guerra, depois de outra tentativa mal sucedida, o
coronel Perdigão informou que a Operação Dragão passaria para ser feita
por militares e por um médico.
“Apanharam Baumgarten e a esposa na região serrana do Rio. Ela ficou
refém e ele foi para a Polícia Federal, com o delegado Barrouin”.
Cláudio Barrouin Mello foi vice-presidente do Sindicato dos Delegados
Federais do Rio de Janeiro e ficou conhecido ao comandar a operação
que culminou na morte do banqueiro do bicho Toninho Turco. Morreu em
1998.
Conta Cláudio Guerra que os assasinos de Baumgarten levaram a vítima
para alto-mar. A função do médico era fazer uma incisão no seu abdomem
para liberar gases e evitar que boiasse. Mas o corpo apareceu na praia. E
o delegado diz ter ouvido de Perdigão e Vieira que foi por erro do
médico.
“Antes que eu me esqueça: o médico que abriu a barriga do Baumgarten chamava-se Amílcar Lobo”, conta o ex-delegado.
Amílcar Lobo, tempos depois, teve seu registro médico cassado por ter
participado de sessões de tortura no regime militar. Seu codinome era
“Doutor Carneiro”.
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